terça-feira, 3 de abril de 2007

Numa entrevista ao "Correio"

Coimbra merecia ser candidata a capital europeia da cultura



Historiador e defensor da preservação do património português desde sempre, diz não ter medo de ser conotado como defensor da cultura popular, a que está mais próxima das pessoas. Para Mário Nunes, a cidade merecia ter sido candidata a capital europeia da cultura e "o governo tem maltratado Coimbra". Lamentando a falta de espaços de fruição e produção cultural, manifesta ainda algum pesar pela inconstância de públicos na cidade e pede às pessoas que sejam parte da cultura, já que sem ela "não há desenvolvimento da humanidade".








Coimbra merecia ser candidata a capital europeia da cultura?
Acho que sim. Coimbra tem um património louco e penso, que a escolha esteve ligada a uma situação de cariz político que não se compreende. Aqui teriam que gastar mais dinheiro… Uma capital europeia não deve servir só para acolher festas, acontecimentos e deve ser deixada alguma coisa, obra. Coimbra, pelo seu património necessitaria de um investimento maior e isso deve ter sido ponderado também politicamente. Coimbra continua aliás a perder coisas… Vamos agora deixar de ter o Arquivo dos Edifícios e Monumentos Nacionais que vai para um armazém em Lisboa. Não posso entender isto. Há muitas obras paradas e projectos a que não é dado andamento. Coimbra está a ser muito maltratada por este governo.


"Coimbra continua a perder coisas (…) Há muitas obras paradas e projectos a que não é dado andamento"



Os cidadãos de Coimbra têm consciência do património cultural da cidade e envolvem-se, participam na vida cultural?
Essa é uma realidade inconstante. Verifico que é possível ter uma casa cheia mas também é possível não ter ninguém. Houve agora a Semana Cultural da Universidade que tinha um programa muito forte, diversificado e intenso e quando a Orquestra Contemporânea de Lisboa tocou no Gil Vicente, que tem lugar para 800 pessoas, estavam cerca de 80… Era um deserto completo e as palmas não se ouviam no palco. No encerramento desta semana cultural, estavam só cerca de 150 pessoas; numa peça da companhia Bonifrates, cerca de 20; no Teatro em Movimento, que o Gil Vicente censurou por não ter qualidade e que foi por isso apresentado no Instituto Português da Juventude, estariam cerca de 100 pessoas; no Teatrão, numa peça recente, estariam umas 25… Mas, por exemplo, os concertos da Orquestra Clássica do Centro juntam 200 pessoas. Isto é, de certa forma, incompreensível. Acho que as pessoas são capazes de ir assistir a espectáculos à Figueira da Foz, por exemplo, e aqui deixam-nos passar ao lado. Temos uma Universidade com mais de 30 mil alunos e milhares de docentes mas na Semana Cultural não se viram estas pessoas… Esta instabilidade de espectadores em Coimbra é incompreensível. É talvez um problema de educação para a cultura. Os programas trazem-nos custos e trabalho e sentimos que não se usufrui deles.


O que sente que está por concretizar em termos de desenvolvimento cultural na cidade?
Em cultura há sempre coisas por fazer. Coimbra precisa agora de um grande centro cultural. Poderia ser a Penitenciária ou mesmo o Convento de S. Francisco. Há projectos para o Convento mas depois há sempre a demora das adjudicações. Quanto à penitenciária estamos sempre dependentes do Ministério da Justiça e da desocupação do edifício. Há também opiniões muito diferentes quanto ao destino a dar ao espaço. Gostava ainda de pedir às pessoas que participem nos eventos oferecidos, não só pela Câmara, mas por todos os grupos culturais de Coimbra. Realizam-se diariamente iniciativas para todos os gostos, idades, escalões etários e culturais e peço às pessoas que venham, participem e que se enriqueçam. Porque sem cultura não há desenvolvimento da humanidade.




(Para lêr a entrevista na íntegra adquira o jornal "Correio de Coimbra" imprenso do dia 5 de Abril de 2007)

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